“Robocalipse”: como a automação pode impactar o mundo do trabalho
Vai haver um “robocalipse”, com a automação varrendo a indústria e substituindo os trabalhadores humanos por máquinas? O economista da Universidade de Boston, Pascual Restrepo, garante que há muito alarmismo sobre esse tema, mas, ao mesmo tempo, explica que vivemos realmente um momento de mudança.
Obviamente, há motivos para preocupação: o Departamento Nacional de Pesquisas Econômicas revela que cada robô industrial elimina quase seis empregos. O estudo examinou as perdas de postos de trabalho entre 1990 e 2007. O resultado contrariou uma pesquisa anterior do próprio Restrepo, realizada com o co-autor Daron Acemoglu, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que analisou a história e argumentou que, em longo prazo, a automação transforma, em vez de eliminar os empregos humanos.
Restrepo ainda acredita nisso. Para o pesquisador, seria imaturo prever o fim do trabalho uma vez que já houve tendências semelhantes em outros períodos da história. “O processo de substituição do homem por máquinas não é novo”, diz ele. “Acontece há 200 anos. Por que ainda temos tantos empregos?”, questiona. Ele exemplifica dizendo que, os Estados Unidos já tiveram 60% da população trabalhando no campo, número que hoje representa apenas 3%. A automatização, levou à ascensão dos empregos industriais, que depois migraram para o setor de serviços: “Quem imaginaria há 30 anos que teríamos pessoas projetando aplicativos, trabalhando como engenheiros de software? Quem sabe o que nossos filhos farão daqui a 30 anos?”, questiona.
Empregos do futuro ou o futuro do emprego
Ainda assim, a transição para empregos do futuro pode ser bastante traumática, pois essa migração acontece de forma lenta, impactando a economia uma vez que as comunidades têm dificuldade em gerar novas vagas. Os pesquisadores perceberam que, pela falta de capacidade de recolocação, os muitos trabalhadores simplesmente desanimam e param de procurar. Ele percebeu que a retomada dos postos perdidos é demorada após analisar 19 indústrias que passaram a utilizar robôs. Entre as áreas, estão fabricação de automóveis, eletrônicos, produtos farmacêuticos, plásticos, produtos químicos e processamento de alimentos.
Segundo o pesquisador, houve muitas vezes um atraso de décadas entre as ondas passadas de automação e os trabalhadores que se mudaram para empregos recém-criados com bons salários. Embora esses ajustes não sejam fáceis, é importante ponderar que a oposição à automação não corrigirá o problema. “A tecnologia é a razão pela qual temos um alto padrão de vida”, diz.
Enquanto o estudo da dupla não aborda soluções para a situação dos trabalhadores, Restrepo comenta que os humanos podem optar por procurar novos usos da tecnologia, criando, inclusive, diferentes tipos de ocupações. Em outras palavras: as mudanças são inevitáveis, mas podem ser encaradas como oportunidades para nova atuações e abordagens, e, mais do que nunca, é preciso se reinventar.