Estudo de Stanford disseca os problemas econômicos tóxicos e comportamentos da geração do milênio
Relatório publicado recentemente por pesquisadores do Centro de Pobreza e Desigualdade de Stanford, nos Estados Unidos (EUA), mostra que os problemas enfrentados pela geração do milênio — jovens adultos nascidos nas décadas de 1980 e 1990 — do país são fruto de uma crescente desigualdade que vem aumentando há décadas. Publicado em 6 de junho, o relatório reuniu alguns dos principais especialistas dos EUA em pobreza e desigualdade, oferecendo uma avaliação abrangente dos dados sobre educação, saúde, emprego, renda, entre outros. São informações valiosas para entendermos comportamentos desta geração e mapearmos como evitar desavenças geracionais no mercado de trabalho.
Em entrevista ao site da Stanford News, David Grusky, professor de sociologia e diretor do Centro de Pobreza e Desigualdade da Universidade, explica que a geração do milênio é a primeira a experimentar de maneira plena os problemas sociais e econômicos do nosso tempo.
Ele analisa que como os millennials tentaram entrar no mercado de trabalho durante a Grande Recessão do final dos anos 2000, também tiveram que lidar com problemas econômicos vindos de décadas atrás, como o aumento da desigualdade e o declínio da mobilidade econômica. Isso fez com o início da carreira desta geração fosse marcada por desafios especialmente difíceis.
Educação e salário
O estudo extingue ainda o mito de que millennials com formação universitária ganham tanto quanto as gerações anteriores. Foi apontado que, pelo contrário, jovens adultos da geração do milênio com apenas um diploma de nível médio ou menos estão ganhando muito menos do que suas contrapartes.
O estudo analisa a média de salário anual para homens de 25 anos de idade com bacharelado ou formação superior, algo em cerca de USD 50.000, o que é um pouco maior do que as gerações X e Baby Boomers, feito o ajuste de inflação. Já a média de salário anual para homens de 25 anos que têm diplomas de nível médio ou menos foi de USD 29.000, equivalente a USD 2.600 a menos do que a Geração X e quase USD 10.000 a menos do que os Baby Boomers receberam na mesma idade, segundo a análise dos dados do Censo dos EUA de 1975 a 2018, feita pela socióloga da Universidade, Florencie Torche, e pela doutoranda em sociologia, Amy Johnson.
Comportamento
O documento também aponta que os millenials possuem um conjunto mais amplo de identidades das quais podem escolher. Ao contrário das gerações anteriores, eles frequentemente de identificam como multirraciais e adotam gêneros não convencionais. Este fato joga a favor dos millenials que usam sua identidade a seu favor, compondo assim ambientes de trabalho mais diversos. Estudo recente realizado pela consultoria McKinsey and Co. aponta que empresas com times executivos com maior variedade de perfils são mais lucrativos, chegando até a apresentar 21% a mais de chances de resultados acima da média do mercado do que empresa com menor representatividade.
No entanto, uma parcela da geração do milênio aceita estereótipos raciais e de gênero de maneira semelhante às gerações anteriores. De acordo com o relatório, um quinto dos jovens adultos ainda adota visões tradicionais de papéis de gênero, quase o mesmo que as taxas entre as Gerações X e Baby Boomers, de acordo com a análise de dados da Pesquisa Social Geral entre 1994 e 2016 e pesquisas anteriores feitas pela Stanford.
O estudo aponta que quando se trata de suas identidades, os millennials são uma geração verdadeiramente inovadora que está criando novas opções, mas quando falamos de suas atitudes sobre raça e gênero, uma parte ainda têm pontos de vista tradicionais.
Saúde mental e física
As taxas de mortalidade entre os millenials também aumentaram substancialmente, de acordo com as análises de saúde do relatório escritas pelo economista de Stanford, Mark Duggan, e pelo estudante de economia Jackie Li.
De acordo com a análise feita pelos pesquisadores, com base nos dados dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças, entre 2008 e 2016 as taxas de mortalidade entre 25 e 34 anos aumentaram em mais de 20%. Este indicador foi impulsionado principalmente por um aumento no número de suicídios e overdoses de drogas. Já a taxa de mortalidade entre brancos não-hispânicos, com idades entre 20 e 34 anos, foi o mais alto — figurando 27% — comparado a um aumento de 9% para negros e 6% para a população hispânica.
Essas descobertas estão em justaposição com o fato de que mais pessoas da geração do milênio tem acesso a planos de saúde. Duggan e Li descobriram que, por causa do Affordable Care Act — popularmente conhecido como ObamaCare — a proporção de adultos na faixa dos 20 anos sem seguro de saúde caiu em mais da metade entre 2009 e 2017. O relatório também aponta que a diferença racial na cobertura do seguro de saúde diminuiu com a expansão do serviço sob o ObamaCare.